Antes de vir para Londres, tinha experimentado em Belo Horizonte uma espécie de organização (roteiro?) em meus laboratórios junto ao Grupo Litura. Meu solo parecia estar ganhando contorno. Mas em meus laboratórios aqui na Middlesex University, que estiveram mais relacionados à exercícios específicos (de meditação, as Conexões, a Deriva Meditativa), essa organização anterior havia meio que se perdido.
No entanto, na semana passada tive a felicidade de poder apresentar uma improvisação para minha orientadora, Prof. Vida Midgelow. Nesse exercício reconheci a retomada de uma certa estrutura, com elementos experimentados anteriormente, como minha relação com as cordas, com meus cabelos e mesmo com alguns gestos que haviam sido explorados antes em parceria com Carla Normagna no Grupo Litura, mas também à novas experiências.
No processo criativo de Reversa, tenho procurado privilegiar certas alterações dos estados perceptivos. A experiência desses estados incomuns se relaciona às seguintes perguntas: como o corpo pode se organizar e o gesto surgir mais por uma urgência, necessidade, impulso interno [antrieb], do que por um comando intelectual deliberado?; como acessar conexões com esse impulso interno, conectar vida interior (movimento interno, sensações, intuições, sentimentos) e vida exterior? Como essas conexões afetam meus gestos?
Em certa medida, pode parecer impossível dar forma a estas questões tão subjetivas. Mas aos poucos algumas configurações específicas têm retornado, e dentro delas, tenho encontrado espaço para um exercício de liberdade. A última estrutura que encontrei (ou será que foi ela que me achou?), tem a ver com um percurso, com criar aos poucos um mundo particular e também um estado corporal através do próprio movimento, da respiração e do princípio da vibração (que vem da prática de vibração-contenção-fluxo de Carla Normagna).
O roteiro experimentado semana passada foi assim:
1. Começo deitada, percebendo as conexões internas, centro e periferia do corpo, sensações, e faço a respiração ujjayi (do Yoga) por um tempo;
2. Improviso a partir dessa sensação de conexão até chegar em nível alto
3. Giros lentos até que as cordas se emaranhem ao redor dos meus pés
4. Exploro gestos de braços, cabeça e coluna em nível médio (com o tronco inclinado à frente)
5. Solto os cabelos e subo até a posição vertical
6. Exploro diferentes ritmos respiratórios
7. Permaneço com os vestígios do que fica da vibração que a respiração gera (e que também sei que meus movimentos geraram)
8. Retirada dos cabelos do rosto, exercício de olhar
9. Saída das cordas
Fiz um pequeno vídeo a partir de fotografias do laboratório para se ter uma ideia dessa estrutura provisória (o vídeo tem 45 segundos mas a improvisação durou 26 minutos):
English version
Before my coming to London, I had experimented a sort of organization (score?) in my laboratories with the Grupo Litura (Belo Horizonte, Brazil). My solo seemed to be gaining contour. But in my laboratories here at Middlesex University, which were more related to specific exercises (meditation, Connections, Meditative Drift), that earlier organization had been kind of lost.
However, last week I was fortunate to be able to present an improvisation for my advisor, Prof. Vida Midgelow. In this exercise I recognized the resumption of a certain structure, with elements previously experienced, such as my relationship with the strings, with my hair and even with some gestures that I had been explored before in partnership with Carla Normagna in the Grupo Litura, but also to new experiences.
In Reversa’s creative process, I have sought to privilege certain changes in my perceptual states. The experience of these unusual states relates to the following questions: how can the body organize itself and the gesture arise more by an urgency, necessity, internal impulse [antrieb] than by a deliberate intellectual command?; how to access connections with this inner impulse, connect inner life (inner movement, sensations, intuitions, feelings) and outer life? How do these connections affect my gestures?
In some way, it may seem impossible to give shape to such subjective questions. But little by little specific configurations have returned, and within them, I have found some space for an exercise of freedom. The last structure I found (or it was the structure that found me?), has to do with a path, with gradually creating a particular world and also a bodily state through movement itself, breathing and the principle of vibration (which comes from the practice of vibration-containment-flow of Carla Normagna).
The structure I tried last week was something like this:
1. Lying down, realizing the inner connections, center and periphery of the body, sensations, and do ujjayi (Yoga) breathing for a while;
2. Improvising from this feeling of connection until reaching high level
3. Slowly turning until the strings get tangled around my feet
4. Exploring arms, head and spine at mid level (with trunk bent forward)
5. Loosing my hair and get back to the upright position
6. Exploring different respiratory rhythms
7. Moving on with the vestiges of what is left of the vibration that the breath generates (and which I also know that my movements generated)
8. Removing hair from the face, exercise of the eyes
9. Getting out of the strings
I made a short video from lab photographs to give an idea of this provisory structure (the video has 45 seconds but the improvisation lasted 26 minutes):
Vivian Barbosa 