Impulso interno|Inner impulse

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Embora a ideia de impulso na dança possa assumir um sentido mais “mecânico”, venho explorando essa noção a partir de concepções advindas das práticas que venho desenvolvendo e de minha interpretação sobre o pensamento de Rudolf Laban. Tais perspectivas não desconsideram a materialidade do corpo humano, mas tendem a se conectar de outro modo a ela.

Em vez de uma determinada força muscular aplicada que “bombeia” o movimento em determinada região do corpo através de um comando mental deliberado, começo a compreender impulso, antes, como uma conexão sensível e mais “animal”, se assim o posso dizer, com uma origem e manutenção enigmática do movimento no corpo, sustentada mais por um estado corporal do que pelo pensamento.

Nesse sentido, o pensamento não é excluído do movimento mas se desenvolve em um outro sentido, como “pensamento-movimento”: um pensar que se move em nosso mover e não como antecipação ao mover, nem mesmo como julgamento do mover.

O “pensamento-movimento” é uma ideia labaniana que parece ter sido lançada a partir de experiências muito concretas de improvisação em dança, quando Laban estava explorando a ideia de um corpo capaz de se mover através de “impulsos espaciais” e não através do pensar em palavras [embora ele tenha se questionado também sobre a união entre o pensar em palavras e o pensar em termos de movimento, através destes impulsos espaciais].

Mas, o que significa mover-se através de “impulsos espaciais”? E ainda, como conceber e desenvolver a ideia de impulso na dança a partir das pistas dadas por Laban?

Para o autor, o impulso era um conceito muito especial pois mesmo após abandonar o termo alemão antrieb (pulsão, ímpeto, impulso ou impulso interno, como se pode encontrar em algumas traduções) e adotar o termo Effort (Esforço) para abordar as qualidades dinâmicas do movimento, a palavra impulso permaneceu em seus escritos, até mesmo para elucidar a ideia de Esforço.

Contudo, se nos ativermos à expressão “impulso espacial” veremos que se trata de uma ideia de conexão entre algo que acontece simultaneamente dentro e fora do corpo – o movimento como fruto de uma conexão. Assim, é possível dizer que é através de um diálogo especial com esse “fora” do corpo que o movimento acontece. Uma conexão de ordem sensível, sensório-motora, afetiva e, por que não, espiritual, arrisco dizer.

Sigo buscando a ideia de impulso nos escritos e, sobretudo, em minha prática artística. Explorando outros modos de conexão no corpo que criem aberturas para sentir e explorar o que tais impulsos mostram.

English version

Although the idea of impulse in dance may take a more “mechanical” sense, I have been exploring this notion from conceptions arising from my practices and from my interpretation of Rudolf Laban’s thought. Such perspectives do not disregard the materiality of the human body, but tend to connect to it in another way.

Instead of a certain applied muscular force that “pumps” the movement in a particular region of the body through a deliberate mental command, I begin to understand impulse (and Inner Impulse from the German term antrieb), rather, as a sensitive and more “animal” connection, if I may say so. Impulse tend to be an enigmatic origin and maintenance of movement in the body, sustained more by a bodily state than by the thoughts.

In this sense, the thoughts are not excluded from the movement but are developed in another way, as “movement-thinking”: a bodily process that moves in and as we move. So, thinking it’s not about our expectations or anticipation when moving, not even as a judgment of our own movement.

“Movement-thinking” is a Laban idea that seems to have been formed from concrete experiences of improvisation in dance, when Laban was exploring the idea of a body capable of moving through “spatial impulses” and not through thinking in words [although Laban was also asking himself about the link between thinking through words and through spatial impulses].

But what does it mean to move through “spatial impulses”? And yet, how to conceive and develop the idea of impulse in dance from the clues given by Laban?

For the author, the impulse was a very special concept because even after abandoning the German term antrieb (impulse, impetus, drive, or inner impulse) and adopting the term Effort to address the dynamic qualities of movement, the word impulse remained in his writings, even to make the idea of Effort more explicit.

If we take a look at “spatial impulse” expression we will see that it is about a connection between something that happens simultaneously inside and outside the body. And the movement here is the result of a connection. So we could say that it is through a special dialogue with an “outside” of the body that the movement happens. A sensitive, sensory, physical, affective and, why not, spiritual connection.

I continue to seek in writings the idea of impulse and, above all, in my artistic practice. Exploring other modes of connection and states im my own body that could create spaces to feel and follow whatever these impulses tell me.

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